segunda-feira, julho 25, 2011

Em que ele relata o passado no dia 26 de julho

139 dias atrás andava eu vazio
(e vazio é o copo e por isso ele é bom)
pelas ruas, passeios e esquinas
de uma cidade grande de Minas
qualquer
e tropecei em (e quase pisei e quase quebrei) uma caixinha
de música dessas antigas
de outro carnaval,
e delgada por sobre a caixinha
sobre um pedestal
uma bailarina.

139 cordas dei eu à caixinha
que mais do que música
que mais do que dança
e mais que a bailarina
a caixa de música tinha:
a caixinha falava
e com essa doida surpresa nem meus esdrúxulos sonhos
com essa nem meus mais estranhos delírios
meus mais insanos mitos
desejos secretos
contavam


139 vezes me disse ao ouvido
a caixinha
o que eu queria e não sabia
que queria
ouvir
relata-me a caixa de música
que é música a meus ouvidos
reconhecer a beleza
e a estonte
ante certeza que reata
os sonhos meus

conversa comigo a caixinha
que é mais do que música
que é mais do que dança
é mais que a bailarina
adelgaçada
suas cinzas espalhadas, reacendidas brasas
de outro carnaval
139 noites
me descem
e me invitam
ao seu pedestal

e é em isso que a ausência que ressurge
agora
do alto de suas 139 razões
de ser ausência
é mais grave e imensa que uma só não-caixinha
mais que uma só não-música
que uma só não-dança
uma não-bailarina
o falar tartamudo
o que ausenta agora de mim
é eu só sou ela




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