quarta-feira, dezembro 28, 2011

Precisão



Eu não preciso mais de mim.

Anos perdido depois de
Anos pedindo depois de
Um mendigo pé frio como um
Um a mim mesmo como nunca
Aos pais meus desde sempre
Às lindas filhas minhas desde já

Ao meu amor depois
A parar hoje posso
A finalmente pedir
E nada
E posso
E peço?

Ah! não, não é vero não
Ah! não, finalizarei não
O agir a pedir
O  pedindo agindo
Agora eu amo pois
O ser amando é o amar tudo
O estar amado é o próprio amor
Amar a mim
Aos meus pais
Às minhas filhas minhas
(a elas quase quatro todas)
Ou quanto amar mais será
A ti
A ti que és tudo
A o que és amar
O que és eu

Eu sem precisar mais de mim.

Ó amada que és eu sem ter eu sem ter fim.
Ó lado ao meu lado que afronte atrás ti.
Ó rê.
.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

conpasión

um e dois e três e é quatro e é cinco e
eu seguiria com afinco mesmo
até o fim
dos teus
afins

e é três e é seis e oito e dez e doze
e eu desposaria à soleira mesmo
de trás à
frente os
teus

e é três e é e sete oito e dez e doze
e eu burlaria a mim mesmo assim
do meio ao
sim dos
sins

.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

artnam


da terra,
torna o girassol astro diurno
torna um deus assim
gera agora a fera a madressilva
gera o adeus fatal
da água,
molham dois anfíbios quatro vidas
molham dois de si
foge hipopótamo sob o rio
foge à falta sede
do ar,
cheira o rinoceronte esses cornos
cheira o medo ao vento
alça o pterodáctil o dedo aos céus
alça os dados seus
lança os dardos seus
ouço os cantos seus
de sirenídea bidialogando
de solanácea dibiologando
longo, longe e piano
como se ao longe o canto sumisse
como se a floresta desfolhasse
como se a folhesta deflorasse
tal qual tivesse pra sempre sido
lar hirsuto de um bestiário mítico
a miragem, a gesta, faunesta
preda toda panthera esses nós
preda todos nós
semeia gimnosperma nuinha
semeia tu minha
como se fitasse
como fosse fita
como se só zôo
como se só zinho

.

domingo, dezembro 04, 2011

ao mérito


o beijo é
os abraços são
da sua boca vem
o sorriso,
a vida
e a terra.

a cidade tem
o amor, também
o espaço sai
de fora
e entra
dentro.

a saudade traz
o perdão cai
a calma pousa
às vezes,
aos poucos,
sempre.

o ajuntar,
o desculpar,
o sossegar.
merecem
nosso
amor

.

segunda-feira, novembro 07, 2011

ela é linha

ele diz
ela é dois, ele
mas, ela é miss

ele traz
ela é três, ele
é caos, ela é cais

ele é lã, ela é linha
elinha, elinha, elinha, elinha

ele dói
ela dá, ele
é mau, ela mói

ele quer
ela é cor, ele
ama ela é mar

ele bate à porta perto de adentrar na casa dela
ela bota a mão no mapa e aponta que a casa é dele

ele fede
ela fode ele
pode, ela pede

ele priva
ela prova ele
é brega, ela abriga

ele é lã, ela é linha
elinha, elinha, elinha, elinha

ele furta
ela é farta ele
é grato, ela é gruta

ele é muito
ela é mãe, ele
janta ela junto

ele é lã, ela é linha
elinha, elinha, elinha, elinha

.

sexta-feira, outubro 28, 2011

declaração de amores

olha dentro dos meus olhos
vê o que deles dentro vive
moram anjos dentro deles
jogo infinito de espelhos

mira o que miram meus olhos 
mora onde moram meus olhos 
teus olhos, anjos bifrontes 
jogo infinito de espelhos 

fundem-se amores confusos 
ciclopicamente nus 
dois amores, um amor 
jogo infinito de espelhos

.

quinta-feira, outubro 27, 2011

luta


me é tão preciso um buraco
bem na minha cabeça
pra que ela não esqueça

vejo a mim pelo buraco
bem da minha cabeça
pra que eu não a esqueça

a matéria tão pesada
que o vão bem expele
queima, rasga, fere

o vazio é tão pesado
bem que é vã a espera
quem com ferro fere

o buraco é tão pesado
bem na minha cabeça
quero que ela esqueça

.

sexta-feira, outubro 21, 2011

mens chana

meu amor do corachão
deito a mim aos cheios teus
és minha chama, chou tua china
agradecho achim aos chéus

chão nós dois no chão
chomos nós par cheiros
mente chana, corpos chãos
gracham nós inteiros

chobe icho de novo
ver teu cher em mim
nocho amor chuado é feito
chó de amendoim

pachoca mais doche
pachoca mais linda
eu chou, chabes, como tu
colchão da minha vida


.

quarta-feira, outubro 12, 2011

ano tal qual dois de paus


pinto de amarela a minha
casa
comigo
dentro
como adélia quereria,
trepo escadas e andaimo,
metes a tinta decima abaixo.
annus mirabilis tal qual nós dois de
paus: 2011.
namoramos perto, em floresta
virgem, pedra, jóia:
gema.
amava a ideia de querê-la
(abundam motivos: sobram). la
miel. de animal feito. el
conejo. de animal jeito.
desejarmo-nos assume formas. pra
dentro a paixão entra. pra
fora o perigo o
tesão
enxota.

.

sábado, outubro 08, 2011

como um deus meu bom

solta o fora pra dentro:
e desafora.
enfia o de dentro afora:
e desencana.

mete o que é o seu no dela:
em ela bora.
tira o que é dela e esconde:
é na viola.

mexe o corpo e deixa:
pra quem se gosta.
para como uma estátua:
cospe na encosta.

quente é o corpo de outrora:
agora é gelo.
frio é o que não se achega:
eu vou embora.

preciso o amor em tempo:
fora de hora.
não bate o sentimento:
o amor demora.

se eu quero ocê não peço:
meu quer não cora.
se ocê me quer não mede:
seu quer não chora.

toma meu corpo e usa:
é seu agora.
tomo teu corpo e gozo:
como um deus meu bom.

.

terça-feira, setembro 27, 2011

aí veio o outono


antes do outono 
era de flechas famintas flechado
era deveras desesperado
era tachado três vezes de tolo
e de desembestado

até o outono
tudo saía de um jeito que é meio jogado
tudo era principalmente pra lá de pirado
tinha um pós lance lascivo
todo e qualquer babado

aí vem o outono
e quem já vive e viveu um bocado
é sorte grande a que tira ao ter sorte ao seu lado
é morte a metade da vida
é meio carinho andado

ao outono adiante
desde o outono até este instante
desanda tarde o velho insistente
descobre o passo novinho em folha
da outra cara metade

aí veio o outono
é frio só pra quem não tá acostumado
é triste só pra quem não deixa de lado 
eu e você fizemos demais
é meio carinho andado

.

sábado, setembro 24, 2011

mais lenha na fogueira


pequenininho, 
pequenininho,
me sinto tanto ao
estar bem pertinho
da sua forte imensidão

balançando, eu
eu balouçando,
e você é tão firme, menina!
me dá seu apoio?
me dá sua razão?

subo nas pontas dos pés
para vê-la melhor
piso nos seus
aos seus pés
ao seu pão

valquíria, helena,
cigana e tão bela
iansã de bela morena melena
buraco na terra
abrigo no chão

me acolhe, me cobre,
me envolve em seu manto
que é tanto e tão
quente
que é mãe a sua mão

me balança, baloiça
do seu berço peninsular
tesa esse arco, solta essa flecha
três amor trespassa
o meu coração

suas mãos suadas me empapam
me chovem
mergulho na lagoinha
que ocê, pequena,
faz inundação

menina:
a palavra solta
de sua voz é firme
a energia pouca
no seu pulso brilha

menina:
a ideia mais louca
se sai da sua boca
transforma-se em guia
da transformação

menina sabida:
a enciclopédia da vida
é um versículo breve
é o tomo mais leve
de um livro seu

chinês ideograma, alfabeto cananeu
a mais completa lista
de mil e um califas
é só a serifa
da última letra do nome seu

pequenino, pequenininho.
vertigem que eu sinto
cada vez que eu monto
seu monte e vejo
a mim mesmo à beira

fico nas pontas dos pés e não te vejo
toda, inteira
que falta me faz não te ver inteira?
nenhuma. que só uma sua parte
me já é parteira.



.

quinta-feira, setembro 22, 2011

cata buraco



as forças faltam, e eu desmorono
tentando catar-me aos pedaços
no chão liso
e escorregadio
dos meus quartos

o que é feito de minhas mãos
que a mim mesmo catam
se não as vejo
se são tão pedaços
quanto o resto esgarçado de mim?

e então meus olhos
pedaços como outros dois quaisquer
rolados pra longe
do corpo esfacelado
miram a mim

e custo pra entender
(olhos distantes pouco me dão a saber)
e custo pra explicar
que por mais disjunto eu
eu me tenho tão junto a você

e peno pra aceitar
que a vida assim tombando
no ir abaixo de minhas próprias inclinações
se faz:
se prende em aprender

e a vida lá embaixo
destino de que se diz ladeira
não é pouca vida
não é só besteira
não é despresente se fiz com você

.

quarta-feira, setembro 21, 2011

primavera cotidiana

uma fraçãozinha antes
dos olhos meus reabrirem  
quando a morte do sono desmorre
proutro dia novinho em folha - em flor
você já surge

e é o dia seguindo alegre
com tudo de mais ou menos ruim
e de menos ou mais bom (e segue alegre)
que o dia reoferece
até o morrer do desdia

quantas vezes tentamos a calma
a calma planejada, a calma medida
a calma estudada e a pré concebida
e ver que ela revivia logo adiante
espreitando o despassar dos dias?

ah! tenho orgulho grande docê
do tamanho dum mundo grande
que é o mundo que duas pessoas
cada uma sendo uma
redondam desenrolando cada dia

com só uma insatisfaçãozinha
durmo satisfeito todo anjo dia
é que remorrem meus olhos cansados
e descansam no morrer cotinoitano
sonhando você outro dia

.