quarta-feira, dezembro 22, 2010

Cat people


Na sala de espera somente nós dois.
Escolho o canto esquerdo junto ao banheiro feminino.
Na parede oposta lê Veja uma mulher.
- Esconde Veja a beleza do rosto. 

Pernas cruzadas, bota preta.
Perfeito joelho, notei, a saia é curta e xadrez.
Giro os olhos, cruzo o joelho e a Veja.
- Gata em pele de gente na capa. 

Natassja Kinski abaixa a Veja.
Verdizolhos nos verdizolhos de Natassja.
Vertiginosamente constrangedores.
- Nada abala a Srta. Kinski. 

Diretos e duros e doces os dois.
Grudadozolhos nos meus e os meus nem se fala nos dela.
Ganha a tensão dimensões de grito abafado.
Deixo o limite e a libido à cavalo.

Vou de texano de esporas sangrentas?
Dou de parisiense desistencialista do amor sem pecado?
Vidiando a tez de Natassja Kinski? Obrigado: 
- Divago no claustro doutor em que estamos. 

Nele me estanco prostrado entre garras.
No espaço eterno eu e a penumbra, a gata e a Veja.
Na espreita, a pantera. Goza a verdade do drama:
- Nuvem se esgueira por meu pensamento. 

Pesavam em Natassja problemas legais?
Eu digo: Sabe a Srta. Kinski ler português?
Ela: I beg your pardon? O advogado:
- Pode entrar Sra. Monteiro.