sábado, abril 16, 2011

semana santas


limpa os pés de jesus
lava
com o fogo do aroma  
ébrio
das flores cansadas
de dar

maria santa mulher
dona rainha e mãe
do vosso ventre jesus

amada plena madalena
mulher dama e irmã
da vida devida na cruz

lava teus pés ao meu zêlo,
ó maria
lava que estou a servir
verto a baba
de ponta-cabeça,
madalena

peco o amor viscoso, madalena
deixo o culpar desistir
seco nos meus cabelos, maria
tuas melosas madeixas

quanto mais rias, madalena
quanto mais penas, maria
quanto mais lenha, madalena
mais nosso amor, maria
em fogueira
de brujas
ardia

sexta-feira, abril 15, 2011

agora não, sempre sim


deus fez o mundo no agora
quando fez o mundo
e é doce a promessa do logo
se és deus não careces de um fim

é o prazer imediato
é comer e lavar o prato
é dizer e entender o ato
é imerso
é perto
e vívido
o agir convivido do agora
no calor impreciso da hora

também tenho tido
em amores passados
o ardor do não-esperar
de querer e de pronto provar
de sofrer
de esperar
de explodir
quando a corda que prende o desejo
arrebenta e recolhe o não-beijo

aprendo um amor distinto
exatamente
agora

é o amor do querer outra coisa
mais palpável que aqui exquisito
como fosse re-divino
não comer carne em semana santa
e passar hambriento
a primeira sexta feira da paixão

e passar saciado
o eterno retorno
da amada
e o ocaso
do não

quarta-feira, abril 13, 2011

soledade

soledade deu em saudade
na história longa
da língua galega

e hoje diz o seu revés
não é mais soledade
- a doída ausência que também és
mas é saudade llena, intensa
- a doída presença que também és

acho mesmo que amas
(eu mesmo te acho às vezes)
assíduos os dois na mesma
cidade

encho o coração ermo
solto o choro enviesado
enxugo o mar de dores
em si

sei dos demônios
todos de outro homem
dos seus enxames
amenos

mas,

saudade de mais
te echo de menos