terça-feira, março 12, 2013

Selenata


Nada mais há de enlouquece
Dor
Que ter conhecido a Lua
Que ter apanhado um foguete
Dessas linhas regulares
Que a NASA oferece aos milhares
Aos passageiros de segunda classe
E, apontado pra Lua,
Ter pousado na Lua
Ter visitado a Lua
Ter vasculhado a Lua
Ter versejada a Lua
Ter conversada a Lua
E selenamente escutado, sereno, as cantigas da Lua
E incontinenti ter sido encantado com a dança da Lua
E ter abraçado, e beijado e pisado, e pisado, e pisado na Lua
E ter refeito o amor pela Lua
E ali luar
Num quarto cada vez mais crescente
Adentrado uma a uma as crateras: Regnault, Barbier, Olivier
Entrado em cada um de seus mares: Tranquillitatis, Humorum, Crisium
Maria lunare nostra, e o lacus, e o sinus, o palus no todo oceanus
E ter visto o lado escuro da Lua
E ter visto o lado oculto da Lua
E assim mesmo pisado, e pisado, e pisado na Lua
Fervor derradeiro de vil visitante amador.
...
E então,
Passagem de volta na mão,
Retornar à Terra
E pra sempre subver a Lua
La uivando febril
De um quarto cada vez mais minguante
Subvê-lua como astro, um desastre, um descarte
Um decalque branco-apagado do negro-espesso do céu
Uma esfera, se cheia, ou um sorriso, se meia
Ou só nada, se nova, de prata ou de leite ou de luz
Um astro soltiço, suspenso, inefável
Inescrutavelmente enlouquece
Dor.
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