quinta-feira, junho 30, 2011

em ter me tente



é preciso ter calma por entre o tempo
pés descalços eu me jogo, em fogueira alta
é preciso ser paciente bem a tempo
nu eu sou catapultado, de encontro ao drama
é preciso dar um tempo só pelo tempo
calvo eu me ponho presa fácil dos vermes

é preciso ser sereno por sob o tempo
imberbe eu sou esquartejado em pedacinhos
é preciso sabedoria e além do tempo
tosado imploro à tormenta que engula a mim
é preciso ter os pés no chão do tempo
escalpelado meu sangue atrai a fúria felina

é preciso muito tempo antes que o tempo
já há muito eu me tenha consumido
e se o fantasma da impessoalidade
veste-se em roupas, cabelos e peles
tempos intercalados já não nos bastam
se é nua a linha contínua da insanidade


.

domingo, junho 26, 2011

ela



as horas não passam
até mesmo os segundos
esses pontinhos meteóricos e afobados
e quase mudos do
teórico fluir do tempo teimam
em se arrastar como
estupendas baleias
sem rodinhas
puxadas a cabo de guincho
em atoladas
vias públicas

as horas quiçá se encontram
todas em reunião
solene, ou quiçá
em reunião festiva,
um enterro, um bacanal,
uma partidinha de buraco

e deixam-me aqui retorcido
meu estômago doendo,
estar envolto em mim como
estar numa boa
constritora cobra que a si se come
e a si se engasga
e se aperta e se come e a si
novamente se engasga infim

e desejo sair?
ah! mas o desejo necessita
tempo, o desejo requer movimento
e quer as horas, pro desejar desejar
sem as horas, sem as horas que passam,
não passo de um poste
iluminando ninguém na esquina
(e essa hora é deserta a esquina)

um cão passa
e olha pra mim.
que terrível a baleia,
que terrível argos,
ideafix e o rin-tin-tin
olhando, triste assim
passando,
pro que não passa de mim

ligo a tv e meu olho vermelho
as horas são ela.
o que de esperar merece
só merece porque
agora é que as horas são ela.
preciso estar vivo amanhã
e passar o que atordói – com ela
enchendo o meu coração de ela